DLXXIX

2017 está sendo um ano marcante porque no início dele, ele me tirou muitas coisas que eu julgava essencial, indispensáveis, coisas que eu abria a boca pra dizer que: "Não conseguiria viver sem". Coisas que eu acreditava fielmente que somavam para o meu crescimento e que eu tinha orgulho de dizer que as tinham.

E de repente, como um forte vendaval, 2017 arrancou meu teto, minhas telhas. Eu, inseguro, me recusei a olhar pra cima, eu apenas olhava pro chão e me perguntava: "Por que comigo? Por que as coisas que eu amava se foram? Eu tentei fazer tudo certo, nossa COMO EU TENTEI! Por que tirou as minhas esperanças? O meu motivo? O MEU PODER DO NÓS?" Até que um dia, eu levantei a cabeça, e vi aquele céu azul, lindão, brilhoso, maravilhoso. Vi os pássaros voando e cantando, o ar puro e fresco, aquela brisa gostosa tocando o meu rosto. E ali eu pensei: "Cara, a vida não me tirou nada, ELA SIMPLESMENTE ME DEU!"

Me deu a liberdade de ser quem eu sou...
Me deu a capacidade de ter amor próprio...
Me deu a habilidade de inverter os pontos de vista que eu tinha em 180° graus...
Me deu a chance de enxergar um céu colorido, ao invés de um teto cinza que eu, ingênuo, acreditei ser a razão da minha vida, a futura origem dos meus frutos, a certeza de um dedo anelar merecer um Anel dourado de Saturno...

Ainda me lembro de um vestido branco, um véu, jardins de flores naquele teto, naquele teto que eu imaginava enxergar as estrelas mais lindas do mundo, e infelizmente, me contentava em apenas imaginar as estrelas mais lindas do mundo... É uma pena, eu imaginava como uma criança, uma criança pura que sorria toda vez que olhava para aquele teto cinza. Seria eu um autista? Não, antes fosse... Eu era um apaixonado, louco de amor por aquele teto cinza... E a vida o arrancou de mim. Mas agora eu entendo a vida... Ela não arrancou pra me ferir ou pra me machucar, ela arrancou pra eu evoluir e alcançar o patamar que eu mereço estar.

No fundo, lá no fundo, me restam lembranças daquele teto que se foi, imagina se aquele teto adquirisse a habilidade de se expandir conforme eu fosse crescendo também? Pois é, infelizmente aquele teto era inflexível, e um senhor muito sábio me disse uma vez: "É preciso se flexibilizar para não quebrar!" E não é que ele estava certo? Quebrou-se...